10.10 Ribeira de Vilar e Manancial das Bicas
Para as bandas da Rua Barão de Forrester, que até fins do
século XIX foi continuação da Rua de Cedofeita, existia o chamado sítio do
Ribeirinho, nome que tomou por, aí, passar um pequeno regato.
Nessa zona, existiu, também, a Fonte do Ribeirinho ou dos Ablativos.
Fonte do Ribeirinho, nos antigos jardins dos SMAS, na Rua de
Nova Sintra – Fonte: SAPO
Fonte do Ribeirinho porque, pelo seu lado norte, perto de onde
estava implantada, passava uma ribeira que se formava de várias nascentes, que
se localizavam nos Montes Pedral, do Cativo e da Lapa.
Essa ribeira tinha
o seguinte percurso: passava em Salgueiros, atravessava a Quinta do Melo ou das
Águas-Férreas (dos Viscondes de Veiros), passava junto da tal Fonte do Ribeirinho (ou dos Ablativos), tendo já deixado para trás a Fonte das Águas Férreas, bordejava a Rua de Cedofeita seguindo, a poente, da igreja românica de Cedofeita e, continuando paralela à Rua da Carvalhosa contornava, pelo norte, a Fábrica de Tecidos do Jacinto. Daqui, dirigia-se, em linha recta, para a Ponte de Vilar,
desaguando no Douro, na Praia de Massarelos. Era chamada de Ribeira de Vilar.
“A Rua da Piedade foi rasgada ao longo de uma vasta propriedade que já em 1693 andava referenciada em documentos da Santa Casa da Misericórdia do Porto, que era o seu senhoria directo, com a denominação de "Campo do Lugarinho, na aldeia de Vilar", e que andou arrendado a lavradores que o cultivaram até, praticamente, à data da abertura da Rua da Piedade. Devia ser propriedade muito antiga porque numa escritura datada do ano de 1590 já se lhe faz referência como sendo "… o campo, junto ao rio de Vilar" que então confrontava "com o caminho que vai para Ramalde, debaixo da Torre de Pedro Sem", que deve ser a mais antiga referência que se conhece às origens da actual Rua de Júlio Dinis.
O rio de Vilar, atrás
citado, resultava da junção, nas imediações do actual Largo de Alexandre de Sá
Pinto, de pequenos cursos de águas oriundos das terras altas do Monte Pedral,
Praça da República e Avenida da França. A partir do encontro das águas desses
pequenos ribeiros, formava-se um pequeno rio que agora continua a correr
devidamente encanado no subsolo da Rua da Piedade e a céu aberto a partir da
Rua de Vilar, paralelo à Rua dos Moinhos, junto à Rua de D. Pedro V.
E não é por acaso que
aquela artéria se chama dos Moinhos.
Na maior parte dos
moinhos moíam-se cereais. Alguns deles trabalhavam exclusivamente para o bispo.
Noutros fazia-se a farinha destinada ao fabrico de pão que a cidade consumia.
Mas havia uma azenha que moía vidro. Pertencia à fábrica de cerâmica de
Miragaia e trabalhava para esta unidade fabril.
Nas Memórias
Paroquiais de 1758 foi referido que "corre pelo meyo deste lugar de Norte
a Sul"; que nele "mohem ao mesmo tempo nove azenhas"; e que vai
desaguar ao rio Douro, "depois de fertilizar vários quintais, hortas,
limoaes e campos…"
A Rua de Júlio Dinis é
praticamente dos nossos dias. Quando em 1874, se construiu a Rotunda da
Boavista, que começou por se chamar Praça da Boavista e só depois recebeu o
nome de Praça de Mouzinho de Albuquerque, ficou desde logo decidido que dela
sairiam três grandes radiais e que uma delas iria em linha directa sair mesmo
em frente ao Palácio de Cristal. Assim devia ter sido feito mas não foi isso
que aconteceu. A execução da empreitada foi confiada a um gabinete então
denominado "Engenheiros Reunidos". E avançaram. Mas quando a obra
chegou ao sítio onde hoje é a Praça da Galiza defrontou-se com a existência de
um edifício entretanto construído para a Companhia União Fabril Portuense onde
se instalaram os frigoríficos da fábrica de cerveja que a CUFP ali possuía. E
houve que fazer um "cotovelo" ou seja um desvio e daí que durante
muito tempo ao referir-se aquela artéria se dissesse "a tortuosa Rua de
Júlio Dinis…"
Antes da existência da
Rua de Júlio Dinis a artéria de maior movimento nesta zona era a Rua de Vilar
por ser o antigo caminho que ligava, pelo interior, o centro da cidade à Foz
velha e a Matosinhos. Saía de Vilar, passava junto da igreja de Lordelo e
continuava pela Pasteleira até ao miolo da Foz Velha”.
Com a devida vénia a
Germano Silva
Como curiosidade, diga-se que a Nossa Senhora da Piedade
estava presente nesta rua, sendo adorada numa capela que, como é óbvio, já não
existe.
Rua da Piedade, nº 34. Em 1930, aqui estava a Capela de Nossa
Senhora da Piedade – Fonte: Google maps
Capela de Nossa Senhora da Piedade, dentro da elipse, em
planta de Telles Ferreira de 1892
Segundo J. Bahia Junior:
“ Na mesma rua em que
esta, nascente fica e pouco acima, passa um ribeiro formado pelas aguas
residuaes de uma grande fabrica, que são de vez em quando aproveitadas para
rega, pelo lavrador a quem pertencem os campos por onde ellas passam. N'essas
occasiões, referiram-me os habitantes do logar, as bicas mal podem com a
quantidade da agua, com a differença apenas que a agua sáe corada,
circunstancia devida naturalmente á quantidade de anilinas que essas aguas
carreiam e que teem uma extrema facilidade para se infiltrarem nos terrenos..."
A unidade industrial citada no texto anterior, deveria ser a
“Fábrica dos Marinhos”, sita na Rua da Piedade, que desde 1886 tinha uma
parceria com a “Fábrica de Asneiros” da Rua da Torrinha e o curso de água citado era a Ribeira de Vilar.
Manancial das Bicas
Fonte
da Rua da Fonte de Massarelos ou Fonte das Bicas de Massarelos
O Manancial das Bicas tinha a sua nascente na Rua das Bicas de Vilar (actual Rua da Fonte de Massarelos), logo acima da Fonte das Bicas de Massarelos, mais propriamente na Quinta do Castanheiro de João Pacheco Pereira
Fonte da Rua da Fonte de Massarelos - Ed. J.Portojo
A Fonte das Bicas de Massarelos é uma
construção edificada provavelmente em 1637, pois a sua obra foi adjudicada em
Janeiro desse ano ao pedreiro Jorge Mendes por 18$000 réis, tendo a cidade
fornecido a cal. Naquela altura, a rua deveria chamar-se, Rua das Bicas de
Vilar.
Tem, incorporados lavadouros públicos de
construção recente, mas mantendo a tradição primitiva.
A sua nascente estava localizada na Quinta
do Castanheiro, e segundo Henrique Duarte e Sousa Reis, a água era excelente e
abundante. O espaldar tem uma forma rectangular simples, possuindo nas
extremidades duas pilastras. Ao centro usa uma lápide, que deve ter tido uma
inscrição, e contém duas bicas que brotam para um tanque, que por sua vez
distribui por uma série de lavadouros logo em frente.
“É um manancial abundante, fornece uma
fonte com duas caleiras na Rua das Bicas
em Massarelos, a mina é aberta em uma propriedade adjacente onde corre a
água para tanques próprios para lavagem.“
Fonte – Tito de Bourbon e Noronha, In: As
Águas do Porto (Dissertação à Escola Médico Cirúrgica, em 1885)
A fonte no primeiro plano da foto acima é apontada como sendo, a Fonte das Bicas de Massarelos.
“A fonte denominada das Bicas, está
assente na rua a que deo o nome, a qual dá communicaçaõ d´alameda de
Massarellos para a rua de Villar. O seu manancial fica localizado na quinta do
Castanheiro pertencente a Joaõ Pacheco Pereira. He abundantíssima e excelente
em tudo esta agoa.”
In: Manuscritos Inéditos da Biblioteca Pública Municipal Porto
In: Manuscritos Inéditos da Biblioteca Pública Municipal Porto
A Fonte das Bicas de Massarelos é confundida
muitas vezes com um chafariz, levantado em 1805 na Alameda de Massarelos, no Cais das Pedras, e conhecido por Chafariz
de Massarelos.
Chafariz de Massarelos no Cais das Pedras ou Fonte da Alameda de Massarelos
Chafariz de
Massarelos
Sobre esta fonte diz J. Bahia Junior:
“A Fonte do Bicalho fica situada no caes do
Bicalho junto mesmo á margem do rio em frente á Fundição do Caes do Bicalho. A
sua mina vae passar por baixo d'esta fabrica, não é visitável e vem lançar-se
exteriormente por meio do uma caleira de pedra.
Ainda hoje é aproveitada pelos habitantes das
proximidades, posto que a Fonte Nova do Bicalho lhe seja agora preferida”.
Ao fundo da Calçada da Arrábida
Segundo J. Bahia Junior:
“ (…) situada nas
traseiras da quinta do senhor Teixeira Duarte, onde nasce e foi por este
proprietário cedida à Câmara a sua água para se levantar a fonte que agora aí
se encontra. Está situada ao fundo da Calçada da Arrábida no meio de dois
grandes tanques com os respectivos lavadouros”.
Fonte do Caquinho, Fonte do Caco ou Fonte das Azenhas
Fonte do Caquinho
Fonte do Caquinho e
lavadouros
Na Ribeira de
Massarelos, paralela à Rua D.
Pedro V. e em local bem escondido, existe a Fonte do Caquinho e uns lavadouros
ainda hoje usados por habitantes do lugar. Esta água movimentava alguns moinhos,
dos quais ainda restam vestígios.
Praticamente no local da foto abaixo, esteve implantada a Fonte de Vilar sendo, hoje, uma peça da memorabília da cidade.
Na Rua de Vilar já perto da Rua D. Pedro V
Segundo J. Bahia Junior esta fonte estava colocada na
esquina da Rua de Vilar e do Beco de S. Macário e para ela se descia por uma
escada e a sua nascente era no próprio local, num cubo de pedra fechado em que
a bica estava cravada.
Fonte do Bom Sucesso (à direita hoje está o mercado do Bom
Sucesso)
A fonte da foto acima estará actualmente, segundo se crê, em
quinta de Barcelos, que pertenceu à família Rocha Ferreira, na freguesia de
Martim.
Foi mandada construir no ano de 1748, por António de Almeida Saraiva,
que se prontificava a fornecer a água que dela brotasse, quando e na quantidade
que muito bem lhe parecesse. É toda de pedra trabalhada e, em plano alto,
ostenta uma pequena imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso resguardada num
nicho com grade de ferro e, sob este, um golfinho a lançar água para uma taça
conchada de granito.
Fonte na Rua D. Pedro V
Encontra-se esta fonte na Rua D. Pedro V, à direita, a meio
do trajecto descendente.
Fonte da Masseirinha
Esta fonte segundo J. Bahia Junior, da Masseirinha, ficava
em Massarelos, na Rua da Masseirinha em frente ao nº 7, à direita de quem sobe.
É possível que o nome hoje dessa rua possa ser Macieirinha e
o seu nome esteja ligado, por questão de proximidade, à Quinta da Macieirinha
ou Sacramento e, Masseirinha seja uma corruptela de Macieirinha.
Sendo assim, deveria ficar na zona de Entre-Quintas.
“A chamada Fonte do Campo Alegre, hoje instalada nos jardins dos SMAS, esteve na Rua do Campo Alegre em frente ao nº 294 (actual nº 486), próximo da confluência com a Rua do Gólgata. Constava de um poço contido dentro de uma arca quadrangular cujo interior e em abóbada semicircular, medindo 1,90 m por lado e por 2 metros de profundidade e sendo até 0,60 m da sua altura coberta de água. Esta era tirada por uma bomba, nascendo a água em granito. A arca é construída também em granito. Esta fonte foi abandonada por falta de água, sendo entulhada por ordem da Câmara, até ao nível do terreno da quinta a que a arca estava encostada, em 1945, tendo sido mudada para as matas do SMAS a 31 de Março desse mesmo ano. A quinta era pertença de D. Rosalina Rosa de Jesus”.
Fonte: pt.wikipedia.org
Fonte do Campo Alegre nos Jardins dos SMAS, na Rua de Nova Sintra
Fonte do Campo Alegre (com torneira extra, exterior e
lateral à arca), no seu local primitivo – Ed. J. Bahia Junior, 1909
Esta fonte localizava-se na Rua da Pena, em tempos chamada de Rampa da Pena, conhecida durante o século XX, por ser nela que eram executadas algumas manobras de destreza pelos futuros condutores auto.
Fonte da Póvoa – Ed. J Bahia Junior (1909)
“Fica (em 1909) na Rua da Pena por baixo de um quintal cultivado cujo nivel superior não dista mais de 2,m80 da caleira, da fonte. A caleira lança-se em um pequeno tanque com lavadouro lateral”.
Fonte: J. Bahia Junior
Seguindo a Rua da Fonte de Massarelos encontramos, um fontanário metálico do século XX, da C.M.P., que é ainda usado pela população.
Sobre este singelo fontanário, conta-se que no
local onde agora se encontra, existiu uma bica com uma água milagrosa que curava
os marinheiros que padeciam de determinada moléstia, causada pela grande
exposição ao sol, durante as longas viagens. Desde que a água fosse aplicada
nos olhos, antes do nascer do sol, a dita moléstia passava…
Fontanário em Massarelos
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