terça-feira, 10 de janeiro de 2017

(Continuação 16) - Actualização em 01/11/2019

10.10 Ribeira de Vilar e Manancial das Bicas


Para as bandas da Rua Barão de Forrester, que até fins do século XIX foi continuação da Rua de Cedofeita, existia o chamado sítio do Ribeirinho, nome que tomou por, aí, passar um pequeno regato.
Nessa zona, existiu, também, a Fonte do Ribeirinho ou dos Ablativos.



Fonte do Ribeirinho, nos antigos jardins dos SMAS, na Rua de Nova Sintra – Fonte: SAPO



Fonte do Ribeirinho porque, pelo seu lado norte, perto de onde estava implantada, passava uma ribeira que se formava de várias nascentes, que se localizavam nos Montes Pedral, do Cativo e da Lapa. 
Essa ribeira tinha o seguinte percurso: passava em Salgueiros, atravessava a Quinta do Melo ou das Águas-Férreas (dos Viscondes de Veiros), passava junto da tal Fonte do Ribeirinho (ou dos Ablativos), tendo já deixado para trás a Fonte das Águas Férreas, bordejava a Rua de Cedofeita seguindo, a poente, da igreja românica de Cedofeita e, continuando paralela à Rua da Carvalhosa  contornava, pelo norte, a Fábrica de Tecidos do Jacinto. Daqui, dirigia-se, em linha recta, para a Ponte de Vilar, desaguando no Douro, na Praia de Massarelos. Era chamada de Ribeira de Vilar.



“A Rua da Piedade foi rasgada ao longo de uma vasta propriedade que já em 1693 andava referenciada em documentos da Santa Casa da Misericórdia do Porto, que era o seu senhoria directo, com a denominação de "Campo do Lugarinho, na aldeia de Vilar", e que andou arrendado a lavradores que o cultivaram até, praticamente, à data da abertura da Rua da Piedade. Devia ser propriedade muito antiga porque numa escritura datada do ano de 1590 já se lhe faz referência como sendo "… o campo, junto ao rio de Vilar" que então confrontava "com o caminho que vai para Ramalde, debaixo da Torre de Pedro Sem", que deve ser a mais antiga referência que se conhece às origens da actual Rua de Júlio Dinis.
O rio de Vilar, atrás citado, resultava da junção, nas imediações do actual Largo de Alexandre de Sá Pinto, de pequenos cursos de águas oriundos das terras altas do Monte Pedral, Praça da República e Avenida da França. A partir do encontro das águas desses pequenos ribeiros, formava-se um pequeno rio que agora continua a correr devidamente encanado no subsolo da Rua da Piedade e a céu aberto a partir da Rua de Vilar, paralelo à Rua dos Moinhos, junto à Rua de D. Pedro V.
E não é por acaso que aquela artéria se chama dos Moinhos.
Na maior parte dos moinhos moíam-se cereais. Alguns deles trabalhavam exclusivamente para o bispo. Noutros fazia-se a farinha destinada ao fabrico de pão que a cidade consumia. Mas havia uma azenha que moía vidro. Pertencia à fábrica de cerâmica de Miragaia e trabalhava para esta unidade fabril.
Nas Memórias Paroquiais de 1758 foi referido que "corre pelo meyo deste lugar de Norte a Sul"; que nele "mohem ao mesmo tempo nove azenhas"; e que vai desaguar ao rio Douro, "depois de fertilizar vários quintais, hortas, limoaes e campos…"
A Rua de Júlio Dinis é praticamente dos nossos dias. Quando em 1874, se construiu a Rotunda da Boavista, que começou por se chamar Praça da Boavista e só depois recebeu o nome de Praça de Mouzinho de Albuquerque, ficou desde logo decidido que dela sairiam três grandes radiais e que uma delas iria em linha directa sair mesmo em frente ao Palácio de Cristal. Assim devia ter sido feito mas não foi isso que aconteceu. A execução da empreitada foi confiada a um gabinete então denominado "Engenheiros Reunidos". E avançaram. Mas quando a obra chegou ao sítio onde hoje é a Praça da Galiza defrontou-se com a existência de um edifício entretanto construído para a Companhia União Fabril Portuense onde se instalaram os frigoríficos da fábrica de cerveja que a CUFP ali possuía. E houve que fazer um "cotovelo" ou seja um desvio e daí que durante muito tempo ao referir-se aquela artéria se dissesse "a tortuosa Rua de Júlio Dinis…"
Antes da existência da Rua de Júlio Dinis a artéria de maior movimento nesta zona era a Rua de Vilar por ser o antigo caminho que ligava, pelo interior, o centro da cidade à Foz velha e a Matosinhos. Saía de Vilar, passava junto da igreja de Lordelo e continuava pela Pasteleira até ao miolo da Foz Velha”.
Com a devida vénia a Germano Silva



Como curiosidade, diga-se que a Nossa Senhora da Piedade estava presente nesta rua, sendo adorada numa capela que, como é óbvio, já não existe.



Rua da Piedade, nº 34. Em 1930, aqui estava a Capela de Nossa Senhora da Piedade – Fonte: Google maps



Capela de Nossa Senhora da Piedade, dentro da elipse, em planta de Telles Ferreira de 1892



Segundo J. Bahia Junior:

“ Na mesma rua em que esta, nascente fica e pouco acima, passa um ribeiro formado pelas aguas residuaes de uma grande fabrica, que são de vez em quando aproveitadas para rega, pelo lavrador a quem pertencem os campos por onde ellas passam. N'essas occasiões, referiram-me os habitantes do logar, as bicas mal podem com a quantidade da agua, com a differença apenas que a agua sáe corada, circunstancia devida naturalmente á quantidade de anilinas que essas aguas carreiam e que teem uma extrema facilidade para se infiltrarem nos terrenos..."


A unidade industrial citada no texto anterior, deveria ser a “Fábrica dos Marinhos”, sita na Rua da Piedade, que desde 1886 tinha uma parceria com a “Fábrica de Asneiros” da Rua da Torrinha e o curso de água citado era a Ribeira de Vilar.



Manancial das Bicas

Fonte da Rua da Fonte de Massarelos ou Fonte das Bicas de Massarelos


Manancial das Bicas tinha a sua nascente na Rua das Bicas de Vilar (actual Rua da Fonte de Massarelos), logo acima da Fonte das Bicas de Massarelos, mais propriamente na Quinta do Castanheiro de João Pacheco Pereira






Fonte da Rua da Fonte de Massarelos - Ed. J.Portojo


A Fonte das Bicas de Massarelos é uma construção edificada provavelmente em 1637, pois a sua obra foi adjudicada em Janeiro desse ano ao pedreiro Jorge Mendes por 18$000 réis, tendo a cidade fornecido a cal. Naquela altura, a rua deveria chamar-se, Rua das Bicas de Vilar.
Tem, incorporados lavadouros públicos de construção recente, mas mantendo a tradição primitiva.
A sua nascente estava localizada na Quinta do Castanheiro, e segundo Henrique Duarte e Sousa Reis, a água era excelente e abundante. O espaldar tem uma forma rectangular simples, possuindo nas extremidades duas pilastras. Ao centro usa uma lápide, que deve ter tido uma inscrição, e contém duas bicas que brotam para um tanque, que por sua vez distribui por uma série de lavadouros logo em frente.


É um manancial abundante, fornece uma fonte com duas caleiras na Rua das Bicas em Massarelos, a mina é aberta em uma propriedade adjacente onde corre a água para tanques próprios para lavagem.
Fonte – Tito de Bourbon e Noronha, In: As Águas do Porto (Dissertação à Escola Médico Cirúrgica, em 1885)




Fonte das Bicas de Massarelos à entrada do século XX – Ed. J Bahia Junior




A fonte no primeiro plano da foto acima é apontada como sendo, a Fonte das Bicas de Massarelos.

A fonte denominada das Bicas, está assente na rua a que deo o nome, a qual dá communicaçaõ d´alameda de Massarellos para a rua de Villar. O seu manancial fica localizado na quinta do Castanheiro pertencente a Joaõ Pacheco Pereira. He abundantíssima e excelente em tudo esta agoa.” 
In: Manuscritos Inéditos da Biblioteca Pública Municipal Porto

A Fonte das Bicas de Massarelos é confundida muitas vezes com um chafariz, levantado em 1805 na Alameda de Massarelos, no Cais das Pedras, e conhecido por Chafariz de Massarelos.



Chafariz de Massarelos no Cais das Pedras ou Fonte da Alameda de Massarelos




Chafariz de Massarelos 




Sobre esta fonte diz J. Bahia Junior:

“A Fonte do Bicalho fica situada no caes do Bicalho junto mesmo á margem do rio em frente á Fundição do Caes do Bicalho. A sua mina vae passar por baixo d'esta fabrica, não é visitável e vem lançar-se exteriormente por meio do uma caleira de pedra.
Ainda hoje é aproveitada pelos habitantes das proximidades, posto que a Fonte Nova do Bicalho lhe seja agora preferida”.




Fonte Nova de Massarelos ou Fonte Nova do Bicalho



Ao fundo da Calçada da Arrábida


Segundo J. Bahia Junior:


“ (…) situada nas traseiras da quinta do senhor Teixeira Duarte, onde nasce e foi por este proprietário cedida à Câmara a sua água para se levantar a fonte que agora aí se encontra. Está situada ao fundo da Calçada da Arrábida no meio de dois grandes tanques com os respectivos lavadouros”.



Fonte do Caquinho, Fonte do Caco ou Fonte das Azenhas




Fonte do Caco – Ed. J. Bahia Junior (1909)



Fonte do Caquinho



Fonte do Caquinho e lavadouros



Na Ribeira de Massarelos, paralela à Rua D. Pedro V. e em local bem escondido, existe a Fonte do Caquinho e uns lavadouros ainda hoje usados por habitantes do lugar. Esta água movimentava alguns moinhos, dos quais ainda restam vestígios.



Praticamente no local da foto abaixo, esteve implantada a Fonte de Vilar sendo, hoje, uma peça da memorabília da cidade.



Na Rua de Vilar já perto da Rua D. Pedro V



Segundo J. Bahia Junior esta fonte estava colocada na esquina da Rua de Vilar e do Beco de S. Macário e para ela se descia por uma escada e a sua nascente era no próprio local, num cubo de pedra fechado em que a bica estava cravada.



Fonte do Largo do Bom Sucesso (Paradeiro desconhecido, algures em Barcelos)



Fonte do Bom Sucesso (à direita hoje está o mercado do Bom Sucesso)



A fonte da foto acima estará actualmente, segundo se crê, em quinta de Barcelos, que pertenceu à família Rocha Ferreira, na freguesia de Martim.
Foi mandada construir no ano de 1748, por António de Almeida Saraiva, que se prontificava a fornecer a água que dela brotasse, quando e na quantidade que muito bem lhe parecesse. É toda de pedra trabalhada e, em plano alto, ostenta uma pequena imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso resguardada num nicho com grade de ferro e, sob este, um golfinho a lançar água para uma taça conchada de granito.




Fonte na Rua D. Pedro V



Encontra-se esta fonte na Rua D. Pedro V, à direita, a meio do trajecto descendente.




Fonte da Masseirinha



Esta fonte segundo J. Bahia Junior, da Masseirinha, ficava em Massarelos, na Rua da Masseirinha em frente ao nº 7, à direita de quem sobe.
É possível que o nome hoje dessa rua possa ser Macieirinha e o seu nome esteja ligado, por questão de proximidade, à Quinta da Macieirinha ou Sacramento e, Masseirinha seja uma corruptela de Macieirinha.
Sendo assim, deveria ficar na zona de Entre-Quintas.



Fonte da Macieirinha, há alguns anos atrás







“A chamada Fonte do Campo Alegre, hoje instalada nos jardins dos SMAS, esteve na Rua do Campo Alegre em frente ao nº 294 (actual nº 486), próximo da confluência com a Rua do Gólgata. Constava de um poço contido dentro de uma arca quadrangular cujo interior e em abóbada semicircular, medindo 1,90 m por lado e por 2 metros de profundidade e sendo até 0,60 m da sua altura coberta de água. Esta era tirada por uma bomba, nascendo a água em granito. A arca é construída também em granito. Esta fonte foi abandonada por falta de água, sendo entulhada por ordem da Câmara, até ao nível do terreno da quinta a que a arca estava encostada, em 1945, tendo sido mudada para as matas do SMAS a 31 de Março desse mesmo ano. A quinta era pertença de D. Rosalina Rosa de Jesus”.
Fonte: pt.wikipedia.org



Fonte do Campo Alegre nos Jardins dos SMAS, na Rua de Nova Sintra


Fonte do Campo Alegre (com torneira extra, exterior e lateral à arca), no seu local primitivo  – Ed. J. Bahia Junior, 1909








Esta fonte localizava-se na Rua da Pena, em tempos chamada de Rampa da Pena, conhecida durante o século XX, por ser nela que eram executadas algumas manobras de destreza pelos futuros condutores auto.



Fonte da Póvoa – Ed. J Bahia Junior (1909)




“Fica (em 1909) na Rua da Pena por baixo de um quintal cultivado cujo nivel superior não dista mais de 2,m80 da caleira, da fonte. A caleira lança-se em um pequeno tanque com lavadouro lateral”.
Fonte: J. Bahia Junior








Seguindo a Rua da Fonte de Massarelos encontramos, um fontanário metálico do século XX, da C.M.P., que é ainda usado pela população.
Sobre este singelo fontanário, conta-se que no local onde agora se encontra, existiu uma bica com uma água milagrosa que curava os marinheiros que padeciam de determinada moléstia, causada pela grande exposição ao sol, durante as longas viagens. Desde que a água fosse aplicada nos olhos, antes do nascer do sol, a dita moléstia passava… 



Fontanário em Massarelos 

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